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Foto do escritorWanderleia Iris Noa

“É PRECISO MONITORAR A DINÂMICA DE OUTROS VÍRUS CAUSADORES DA DIARREIA MESMO COM A INTRODUÇÃO DA VACINA CONTRA O ROTAVÍRUS”

Atualizado: 26 de set.


Resultados da Vigilância de Diarreia em crianças menores de 5 anos, exortam para a necessidade de manter a atenção aos vírus entéricos mesmo após quase 10 anos da introdução da vacina contra rotavírus em Moçambique. Esta constatação é feita no âmbito do artigo científico intitulado “Detecção de vírus entéricos em crianças menores de cinco anos de idade antes e depois da introdução da vacina contra o rotavírus no distrito de Manhiça, sul de Moçambique, 2008-2019”, publicado recentemente na revista Viruses da autoria de Percina Chirinda, técnica de laboratório e investigadora júnior do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM).


A diarreia é uma das principais causas de morte, sendo a terceira maior causa de morte em crianças a nível global. Por outro lado, as principais causas da diarreia infecciosa são os vírus entéricos que causam cerca de 75% das diarreias, destacando-se o rotavírus e outros, como norovírus, adenovírus entérico, sapovírus e astrovírus. Entre 2007 e 2012 foi realizado o estudo The Global Enteric Multicenter Study (GEMS), onde pretendia-se estimar o peso e identificar as principais etiologias da diarreia infantil na África subsaariana (Quénia, Mali, Gambia e Moçambique) e Ásia (Bangladesh, Índia, Paquistão).


O estudo identificou o rotavírus como o principal causador de diarreia, e com base nestes resultados foi introduzida a vacina contra o rotavírus em 2015 em Moçambique. Após a introdução da vacina em Moçambique, o CISM estabeleceu uma Plataforma de Vigilância de Diarreias a nível do distrito da Manhiça, que demonstrou uma redução significativa da diarreia por rotavírus. Porém ainda não existiam dados que demonstrassem o comportamento de outros vírus entéricos causadores de diarreia, conforme explica Percina, autora principal do artigo. “Relatos de outros países mostraram que à medida que a diarreia por rotavírus diminuía, a diarreia por outros vírus aumentava. Com este estudo, nós queríamos saber o que aconteceu depois da introdução da vacina. Então, comparamos a positividade em crianças internadas com diarreia moderada a severa, com diarreia leve e em controlos da comunidade para averiguar as mudanças advindas da introdução da vacina”.


Este estudo analisou cerca de 4.634 amostras de fezes, das quais 1.779 eram de casos de diarreia e 2.855 eram de controlos, e mostrou um aumento da frequência de detecção de alguns vírus entéricos após a introdução da vacina. Por exemplo, observou-se um aumento de norovírus GII, adenovírus entérico, astrovirus e sapovírus em crianças que apresentavam diarreia moderada severa e diarreia leve. A investigadora realça que os resultado deste estudo mostram que com a introdução da vacina contra o rotavírus, os outros vírus vão aumentando a sua importância. “É preciso que continuemos a olhar, vigiar e monitorar a dinâmica de transmissão desses vírus. Em alguns países por exemplo, o principal causador de diarreia após a introdução da vacina é o norovírus, então, a atenção mudou. Por isso, é necessário realizarmos uma vigilância molecular contínua de modo a gerarmos dados para a implementação de medidas de controlo e prevenção adequadas, como o desenvolvimento de novas vacinas”, concluiu.


Adicionalmente a investigadora relatou que o processo de escrita do artigo foi desafiador, mas foi uma experiencia única. “Entretanto, tivemos boas experiências ao decorrer do estudo e da escrita do artigo que foi liderado pelo Dr. Inácio Mandomando, Investigador Principal do Estudo. “Quando olhei para a primeira versão do manuscrito e hoje olho para o artigo final, a diferença é abismal. Sendo a coordenadora do estudo para área de laboratório, foi um desafio escrever para um público com diversos níveis de conhecimento para que seja capaz de ler o artigo e compreender o conteúdo. Normalmente, eu escrevia apenas para a comunidade científica onde estou inserida. Portanto, este foi um maior aprendizado, por tratar-se do meu primeiro artigo como primeira co-autora”, disse a investigadora.



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