Um artigo recentemente publicado pela equipa de Pesquisa Social do CISM, nomeadamente: Yara Alonso Menendez, Olga Cambaco, Carolina Mindú, Hoticha Nhantumbo, Azucena Bardají, Clara Menendez, Esperança Sevene e Khátia Munguambe no âmbito do Programa de Demonstração de Vacinação contra HPV (HPV-DEMO) que foi implementado pelo CISM, trouxe evidências que pontam que apesar dos participantes do estudo no distrito de Manhiça estarem familiarizados com o termo biomédico “Cancro do Colo do Útero“ (CCU), verificou-se um conhecimento limitado sobre a sua etiologia e transmissão. O estudo envolveu cerca de 116 participantes, perfazendo 10 discussões em grupos focais, com participantes que apresentavam distintas características em termos de idade, sexo, nível de educação e ocupação.
O objetivo deste estudo foi avaliar em que medida as percepções leigas sobre o CCU alinham-se com o conhecimento biomédico do ponto de vista da Saúde Sexual e Reprodutiva, partindo do pressuposto de que, Moçambique tem uma das maiores taxas de incidência do CCU do mundo e as intervenções em saúde ainda são concebidas exclusivamente do ponto de vista das doenças não transmissíveis, apesar de também ser um problema de saúde sexual e reprodutiva.
De acordo com os resultados deste estudo, o termo “cancro” causou confusão aos participantes, uma vez que era entendido como hereditário, não transmissível e como uma doença do Ocidente. Daí que, os autores deste estudo concluíram que as percepções leigas sobre o CCU alinham-se, em grande parte às definições biomédicas e suportam que existe uma estrutura de base comum para enquadrar futuras intervenções de saúde do ponto de vista da saúde sexual e reprodutiva.
Os autores, defendem que programas eficazes de rastreamento podem reduzir significativamente a incidência do CCU e mortalidade se tiverem sucesso em garantir a detecção precoce de lesões pré-cancerosas, o que foi alcançado na maioria dos países de alta renda, e que não foi o caso dos países de baixa e média renda, principalmente devido à falta de infraestrutura, equipamento e recursos humanos adequados para triagem e tratamento. Neste contexto, há uma distribuição desproporcional da incidência de CCU e mortalidade entre países de alta e de baixa e média renda.
De salientar que no país, aproximadamente 8 milhões de mulheres com idade ≥15 anos estão em risco de desenvolver CCU, tornando este o cancro mais frequente entre as mulheres moçambicanas, sendo que a taxa bruta de incidência de CCU no país é de 42 – 60 / 100.000 mulheres / ano, uma das mais altas do mundo. E ainda de acordo com a fonte, em 2009, o Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU) lançou o programa de triagem de CCU com base na inspeção visual com ácido acético e crioterapia em unidades de saúde selecionadas, porém, tanto a implementação do programa de triagem quanto a introdução da vacinação contra o HPV em todo o país requerem um exame aprofundado das percepções locais em relação ao CCU para melhor enquadrar as intervenções.
A premissa chave do artigo que encontra-se disponível neste link, é a ideia de enquadrar uma intervenção de saúde em torno das crenças, interesses e preocupações dos grupos envolvidos, que permita aos implementadores abordar os pontos de discordância entre as suas perspectivas e as dos beneficiários, maximizando a aceitabilidade e eficácia de intervenções no âmbito do CCU.
De salientar que para além das autoras do CISM, o artigo conta com a contribuição de outros autores do Ministério da Saúde que estiveram activamente envolvidos no Programa de Demonstração de Vacinação contra HPV no país, nomeadamente Dra. Graça Matsinhe (Directora do Programa Alargado de Vacinação), Dra. Benigna Matsinhe (Directora Nacional Adjunta de Saúde Pública) e Dra. Rosa Marlene Manjate (Directora Nacional de Saúde Pública).
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