Em 2015, com base em evidências geradas por estudos implementados pelo Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), o Ministério de Saúde de Moçambique introduziu a vacina contra o Rotavírus (Rotarix®; GlaxoSmithKline Biologicals, Rixensart, Bélgica), um vírus que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das principais causas de morte associada a diarreia em crianças menores de 5 anos. Desde então, o CISM implementou uma plataforma de vigilância de doenças diarreicas, com o objectivo de avaliar o impacto da introdução da vacina contra Rotavírus no peso das diarreias.
Neste âmbito, um estudo liderado por Filomena Manjate, Investigadora da Área de Doenças Bacterianas, Virais e Outras Tropicais Negligenciadas do CISM, recentemente publicado na revista Journal of Frontiers in Microbiology, realizou a caracterização do genoma completo da estirpe de Rotavírus denominada G3P[8] detectada em crianças vacinadas e hospitalizadas com diarreia moderada à severa no Hospital Distrital da Manhiça. Os investigadores constataram que o Genótipo G3P[8] está entre as estirpes de Rotavírus mais comum em humanos e animais e que este emergiu na Manhiça depois da introdução da vacina contra o Rotavírus. As estirpes estudadas tinham uma apresentação genómica semelhante entre si, o que pode indicar que têm origens genéticas relacionadas. Por outro lado, o estudo mostrou que estas estirpes humanas apresentavam alta similaridade com estirpes suínas, bovinas e equinas, sugerindo uma possível ocorrência de eventos de rearranjos genéticos ou mistura do material genético das estirpes animais com as humanas no contexto rural de Manhiça.
Há uma diversidade significativa do Rotavírus
Segundo a Filomena Manjate, os dados deste estudo são importantes porque mostram uma diversidade significativa do Rotavírus e podem indicar que, mesmo com o elevado impacto da vacina na redução de casos graves, que observamos na Manhiça, este ainda continua a evoluir e surgem novas estirpes do vírus.
Há necessidade de realizar uma vigilância genómica contínua
Os investigadores ressaltam que os resultados demonstram a necessidade de realizar uma vigilância genómica contínua, para monitorar e compreender as alterações que podem ocorrer na estrutura e composição do Rotavírus após a introdução da vacina; e mostram mais uma vez a importância da implementação de vigilâncias utilizando a abordagem de saúde Única (One Health) ou seja, estudar a possíveis ligações entre o Rotavirus isolado em humanos e animais com base em amostras colhidas nos dois e que estes estejam a viver no mesmo ambiente, com vista a avaliar as dinâmicas da infeção e transmissão para melhor informar as estratégias de saúde pública, monitorar o impacto e a efectividade da vacina sobre as estirpes de Rotavírus circulantes e emergentes.
Referência:
Manjate, F., João, E. D., Mwangi, P., Chirinda, P., Mogotsi, M., Messa, A., Jr, Garrine, M., Vubil, D., Nobela, N., Nhampossa, T., Acácio, S., Tate, J. E., Parashar, U., Weldegebriel, G., Mwenda, J. M., Alonso, P. L., Cunha, C., Nyaga, M., & Mandomando, I. (2023). Genomic characterization of the rotavirus G3P[8] strain in vaccinated children, reveals possible reassortment events between human and animal strains in Manhiça District, Mozambique. Frontiers in microbiology, 14, 1193094. https://doi.org/10.3389/fmicb.2023.1193094
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