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Nercio Machele

RELATÓRIO MUNDIAL DA TUBERCULOSE 2023 RENOVA ESPERANÇAS DE ELIMINAR A DOENÇA


{Esta é uma tradução de um artigo orginal de Alessandra Guida, Assistente de projectos do Isglobal}
Uma adaptação do relatório da OMS

No dia 7 de Novembro de 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou a sua edição anual do Relatório Mundial da Tuberculose cujo propósito é de informar sobre a situação actual da tuberculose a nível global, incluindo os progressos e principais desafios. Este relatório, pode ser considerado o documento mais completo sobre estimativas do peso da doença, pois, em 2022, recolheu dados dos Ministérios da Saúde de 192 países que representam mais de 99% da população mundial e do peso da tuberculose, destacando que estamos finalmente a reverter o impacto negativo da pandemia da COVID-19, e que os casos da doença nas prisões estão a aumentar.


O relatório revela que 7,5 milhões de pessoas foram diagnosticadas com tuberculose em 2022, o que representa o valor mais elevado registado desde que a OMS iniciou a monitorização global da tuberculose em 1995. Embora provavelmente inclua um atraso considerável de pessoas que desenvolveram a TB em anos anteriores, mostra que os países de todo o mundo estão a recuperar o acesso e a prestação de serviços de saúde. Um exemplo gritante é o da Índia, da Indonésia e das Filipinas, que, em conjunto, foram responsáveis por mais de 60% das reduções globais do número de pessoas recentemente diagnosticadas com TB em 2020 e 2021, tendo todas recuperado para níveis superiores aos de 2019 em 2022.


Os actuais esforços globais de eliminação da tuberculose são ainda insuficientes se quisermos erradica-la. Esta foi a segunda doença infecciosa que mais matou em todo o mundo, sendo responsável por 1,3 milhões de mortes só em 2022. A mortalidade por TB afecta desproporcionalmente as pessoas que vivem em condições mais vulneráveis, contribuindo para um ciclo de problemas de saúde e pobreza.

Há uma luz no final do túnel, um vislumbre de esperança

De forma encorajadora, o número de mortes por TB a nível mundial diminuiu pela primeira vez em dois anos e, a 22 de Setembro de 2023, na segunda Reunião de Alto Nível sobre a Luta Contra a Tuberculose da Assembleia Geral das Nações Unidas, os líderes mundiais adotaram uma declaração política com compromissos para mobilizar financiamento suficiente e sustentável para erradicar a TB e melhorar o acesso equitativo à prevenção, testes, o tratamento e cuidados.


Como afirmou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-Geral da OMS "durante milénios, os nossos antepassados sofreram e morreram com a tuberculose, sem saberem o que era, o que a causava ou como a deter. Porém, actualmente, dispomos de conhecimentos e instrumentos com os quais eles apenas podiam sonhar. Temos um compromisso político e temos uma oportunidade que nenhuma geração na história da humanidade teve, a de poder escrever o capítulo final da história da tuberculose".

Reduzir índices de exclusão social no tratamento contra a tuberculose: incluir as prisões

No contexto da tuberculose, há um grupo em particular que tem um risco elevado de desenvolver esta doença e de ter piores resultados no seu tratamento do que a população em geral: as pessoas privadas de liberdade. A sobrelotação, o confinamento em espaços fechados mal ventilados, a nutrição inadequada, os cuidados de saúde deficientes e a prevalência de outros factores de risco para a tuberculose, como a infecção pelo HIV, as perturbações relacionadas com o consumo de álcool e o tabagismo, são elementos que contribuem para taxas mais elevadas de tuberculose nas prisões.


O peso da tuberculose nas prisões é cerca de 10 vezes superior ao da população em geral

Muitas vezes, o problema não recebe a atenção que merece, mas os números falam mais alto: o peso da tuberculose nas prisões é cerca de 10 vezes superior ao da população em geral. Com estes números em mente, é uma decisão bem-vinda que o Relatório Global sobre a Tuberculose de 2023 tenha um capítulo dedicado à TB na prisão nos seus tópicos em destaque e esperamos que ajude a sensibilizar para uma questão de saúde pública frequentemente esquecida, conforme o compromisso das Nações Unidas de "não deixar ninguém para trás", pois esta epidemia não terminará enquanto não cuidarmos da saúde e dos direitos humanos de todos os sectores da população.

Vamos juntos acabar com a tuberculose

Erradicar a tuberculose é possível, mas apenas com esforços colectivos, os mesmos que salvaram cerca de 75 milhões de vidas desde o ano 2000. Para tornar a tuberculose uma doença do passado, será necessário o envolvimento das comunidades e um aumento significativo do financiamento para desenvolver novos tratamentos e vacinas.


Não conseguimos atingir os objectivos globais para 2018-2022, estabelecidos na primeira Reunião de Alto Nível da ONU sobre a tuberculose. No ano passado, apenas 5,8 mil milhões de dólares estavam disponíveis para serviços de diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose, e o investimento na investigação da tuberculose foi, em média, ligeiramente inferior a mil milhões de dólares por ano.


Mas ainda vamos a tempo de atingir os novos e ambiciosos objectivos de financiamento acordados na segunda Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre a tuberculose. Para tal, precisaremos de 22 mil milhões de dólares por ano até 2027 para serviços de diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose e de 5 mil milhões de dólares por ano até 2027 para investimento na investigação sobre a tuberculose.


Para nós, a Tuberculose é uma das áreas prioritárias de pesquisa. O CISM, o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e outros parceiros, têm envidado esforços de pesquisa na busca dos melhores tratamentos e cura da TB. No CISM particularmente, a área da TB tem como principal objectivo gerar capacidade laboratorial e clínica para o desenvolvimento clínico de fármacos e vacinas contra a tuberculose, participar no desenvolvimento clínico de novas ferramentas para a sua prevenção (avaliação de novos fármacos, vacinas e ensaios diagnósticos) e combate, compreender melhor a epidemiologia desta doença em diferentes grupos populacionais, caracterizar molecularmente as estirpes que circulam no distrito de Manhiça e, estabelecer uma plataforma de vigilância da tuberculose no distrito de Manhiça, em parceria com o Programa Nacional de Controlo da Tuberculose (PNCT).

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