A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou uma nova vacina para a prevenção da malária em crianças, denominada R21/Matrix-M, que junta-se à RTS,S/AS01 aprovada em 2021 pela entidade, e cujo o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) contribuiu para o seu desenvolvimento. De acordo com o comunicado da OMS, a nova vacina, foi aprovada pelo seu Director Geral, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante a reunião regular semestral da entidade, que decorreu entre 25 e 29 de Setembro deste ano.
R21/Matrix-M demonstrou ser segura e eficaz para a prevenção da malária em crianças
Segundo a OMS, tal como a primeira vacina contra a doença, de facto, a primeira vacina no mundo contra um parasito RTS,S/AS01, a R21/Matrix-M demonstrou ser segura e eficaz para a prevenção da malária em crianças, quando implementadas amplamente, e espera-se que tenha impacto positivo nos sistemas nacionais de saúde. Ambas vacinas, quando administradas nas mesmas condições apresentam taxas de eficácia semelhantes, em torno de 75%. O órgão enfatiza também, que a adopção da nova vacina à lista de vacinas contra a malária, poderá colmatar às lucanas existentes entre a procura e a oferta, sobretudo, no continente africano onde regista-se o maior peso da doença a nível mundial.
Foi baseada em evidências de um ensaio clínico em curso
A OMS, destaca que a recomendação da R21 como ferramenta de luta contra a malária foi baseada em evidências de um ensaio clínico em curso que demonstrou uma elevada eficácia quando administrada imediatamente antes da época de alta transmissão, e boa eficácia quando administrada num esquema baseado na idade. Por outro lado, as avaliações da OMS revelaram benefícios em relação ao custo-eficácia da vacina, pois segundo a fonte, a relação custo-eficácia da vacina R21 seria comparável a outras intervenções recomendadas contra a malária e outras vacinas infantis.
As avalizações da OMS revelaram ainda que a Vacina R21 é segura, porém, destacam que a escolha da vacina a ser utilizada num país (RTS,S vs R21) deverá basear-se nas características programáticas, no fornecimento e acessibilidade das mesmas, pois, as duas ainda não foram submetidas a um ensaio comparativo entre si, pelo que, não há evidências até o momento mostrando que uma vacina tenha um desempenho melhor que a outra.
Vai acelerar a disponibilidade das vacinas
“Este é sem dúvidas um marco importante para a saúde global, sobretudo para países endémicos como Moçambique, pois a entrada desta vacina no mercado, vai acelerar de forma vertiginosa a disponibilidade das vacinas, por forma a satisfazer a demanda actual no continente africano. Destacar que, devido a escassez da primeira vacina, Moçambique não foi integrado no primeiro grupo de países que irão se beneficiar da mesma”, comenta o Director Geral do CISM, Francisco Saúte.
Saúte acrescenta também que “isto não significa que outras estratégias deverão ser interrompidas, pois está é mais uma ferramenta e destinada a um grupo específico que são as crianças. As outras estratégias deverão continuar a ser implementadas, incluindo a adopção de uma abordagem multissectorial no combate à malária”.
Por sua vez, o Director Científico do CISM, Pedro Aide, destaca o contributo do CISM em pesquisas contra a malária e salienta que, “apesar de que o CISM não esteve envolvido em pesquisas da vacina R21, este tem contribuído em ensaios de fármacos para a prevenção e tratamento da malária, com destaque para o desenvolvimento da primeira vacina, a RTS,S/AS01”.
De facto, o CISM em parceria com o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) realizou em 2002, um estudo que permitiu demonstrar a segurança e eficácia da vacina contra a malária em crianças moçambicanas, e que abriu espaço para o ensaio clínico multicêntrico de fase III. Os resultados deste ensaio clínico realizado durante aproximadamente cinco anos em 13 centros de investigação de oito países africanos, incluindo Moçambique através do CISM, juntamente com a GlaxoSmithKline (GSK) e a PATH Malaria Vaccine Initiative (MVI), sob financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, permitiu que a OMS recomendasse a realização do programa-piloto cujas conclusões permitiram à OMS adoptar a primeira vacina.
Os programas-piloto para introduzir a RTS,S em três países africanos: Gana, Quênia e Malawi permitiram que mais de 1,7 milhões de crianças recebessem pelo menos uma dose da vacina desde 2019. E a implementação da vacinação nestes três países conduziu a uma redução substancial das formas graves e fatais de malária e a uma redução da mortalidade infantil. Segundo a OMS, se administrada amplamente, esta vacina poderá salvar dezenas de milhares de vidas todos os anos.