De acordo com Relatório de Indicadores Básicos de HIV (2015), a prevalência da infecção pelo HIV em Moçambique continua a ser uma das mais elevadas a nível mundial (13,2%), em que o número de mulheres vivendo com o HIV supera o número de homens na mesma situação, o que contribui para que a taxa de transmissão vertical permaneça alta em todo o país. Com vista a controlar a epidemia de HIV, o governo de Moçambique vem implementado um conjunto de intervenções de entre as quais a Opção B+ (início do TARV-Tratamento antirretroviral para todas as mulheres grávidas e lactantes infectadas pelo HIV) que significativamente contribuíram para o aumento do número de indivíduos vivendo com HIV em TARV (1.402.902 pessoas até dezembro de 2020), e também para a redução da proporção de pacientes com doença avançada pelo HIV (DAH) de 73% em 2004 para 37% em 2014.
A meta 95-95-95 do Programa Conjunto das Nações Unidas para o combate ao HIV/SIDA (UNAIDS ou ONUSIDA), tem como principal objectivo diagnosticar 95% de todas as pessoas vivendo com HIV, garantir o acesso ao tratamento antirretroviral (TARV) para 95% dos diagnosticados e alcançar a supressão viral para 95% dos tratados até 2030. Entretanto, apesar dos esforços notáveis, em Moçambique, ainda há desafios que comprometem o alcance dessa meta, devido a alta frequência de casos de doença avançada por HIV entre os indivíduos infectados, o que constitui um problema de saúde pública sobre carregando o sistema nacional de saúde.
Este facto é comprovado em um artigo recentemente publicado por investigadores do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) e seus parceiros. O artigo, resulta de um estudo implementado de 2019 à 2021 no âmbito da Bolsas de Desenvolvimento de Carreira da EDTCP (European & Developing Countries Clinical Trials Partnership), e que realizou uma análise retrospetiva e prospetiva do registos hospitalares de mulheres grávidas infectadas pelo HIV que fizeram seguimento pré-natal (CPN) no Hospital Distrital da Manhiça entre 2015 e 2020. O objectivo do artigo foi de descrever a proporção de mulheres grávidas que se apresentam na primeira consulta de CPN com doença avançada de HIV (quando a pessoa tem o nível de CD4 menor que de 200 células, ou quando, apresenta uma certa sintomatologia que lhe enquadre no estádio 3 ou 4), a sua apresentação clínica, fatores de risco, alterações imunossupressoras ao longo do tempo e os efeitos da doença avançada por HIV nos resultados da gravidez.
“Num país em que já estão a ser implementadas intervenções para controlar a infecção por HIV, como o aconselhamento e testagem e o início imediato do tratamento logo que se confirme o estado positivo do indíviduo, não era de se esperar que fossem registados casos de doença avançada. Porém, neste estudo, constatamos que apesar das diferentes intervenções /campanhas levadas a cabo pelo Ministério de Saúde, mais de 14% e quase 2% das mulheres grávidas infectadas pelo HIV apresentam na primeira consulta de CPN com doença avançada por HIV e imunossupressão grave, respectivamente,” comenta, Tacilta Nhampossa, Investigadora do CISM e primeira autora do artigo.
Segundo Nhampossa, o estudo, “alerta a todos pesquisadores e fazedores de políticas de saúde pública, sobre a necessidade de fortalecimento ou desenvolvimento das estratégias intervenção que visem o diagnóstico antecipado do HIV em mulheres em idade fértil, a vinculação efectiva aos cuidados de HIV com um regime de TARV adequados e o monitoramento rigoroso após o início da TARV, de modo a contribuir para a redução do peso da doença grave e melhorar a sobrevida das mulheres e seus filhos.”
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