Meningite e sepses são doenças resultantes de infecções invasivas por uma bactéria denominada Streptococcus do Grupo B – GBS (nome científico Streptococcus agalactiae) que constituem um dos grandes problemas de saúde pública no continente africano, pois, contribuem significativamente para a doença perinatal, infantil e consequentemente na elevação das taxas de mortalidade deste grupo.
Um estudo coordenado por Justina Bramugy, médica e pesquisadora do CISM e Humberto Mucasse que coordenou a componente de avaliação de neuro-desenvolvimento, constatou que crianças que tiveram sepses (infecções generalizadas no sangue) e meningites (infecções das membranas que envolvem o cérebro e outros órgãos do sistema nervoso) tiveram sequelas que afectaram o seu neurodesenvolvimento. O estudo foi conduzido no distrito da Manhiça durante um ano (Fevereiro de 2020 – Março de 2021) e foi baseado em amostras colecionadas no âmbito do projecto GIBSY que foi implementado entre 1999 a 2019, no mesmo distrito.
Segundo Bramugy, primeira autora do artigo recentemente publicado na revista Clinical Infectious Disease, o estudo tinha duas componetes. “Na primeira componente realizamos uma avaliação retrospectiva onde procuramos aferir até que ponto as crianças que tiveram estas doenças tiveram sequelas que possam ter afectado o seu desenvolvimento neurocognitivo, visão e audição. Na segunda componente, realizamos uma avaliação económica para verificar o custo que essas doenças causa para o sistema nacional de saúde, bem como, para as famílias”, comentou.
Ainda segundo a autora, “numa situação em que há fragilidades no nosso sistema de consultas pré-natais, aliado a não existência de equipamentos para o diagnóstico precoce das infecções, pois na sua maioria são transmitidas das mães para às crianças durante a gravidez, uma das recomendações deste estudo é a necessidade urgente de uma vacina e consequente adopção da estratégia de vacinação pois temos evidências de que se a vacina for administrada em mulheres grávidas, podemos prevenir natimortos e mortes infantis devido a este grupo de doenças.”
O estudo recrutou 39 crianças sobreviventes de GBS e outras 119 crianças de mesma idade e sexo sem a infecção por GBS para o estudo no Hospital Distrital da Manhiça (HDM). Mas também avaliou o papel do GBS em natimortos e mortes infantis recorrendo à amostragem de tecido minimamente invasiva (MITS).
De lembrar que no mundo, quase 22 milhões de mulheres grávidas (ou seja, cerca de uma em cada cinco) são portadoras da bactéria Streptococcus do Grupo B, uma das principais causas de morbidade e mortalidade em bebês menores de três meses de idade, mas a maioria dos casos não é detectada e tratada. O Estudo GIBSY, foi o primeiro estudo abrangente para estimar a carga global de infecções por GBS e foi coordenado pela London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) e financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e contou com a participação de 100 pesquisadores de todo o mundo, incluindo pesquisadores do CISM e do ISGlobal, que coletaram dados disponíveis em todo o mundo e estimaram o número de casos de GBS e o seu impacto na saúde materno-infantil para 195 países em 2015.
Para além de Bramugy e Mucasse, o estudo contou com a participação de outros investigadores do CISM, nomeadamente, Sérgio Massora, Pio Vitorino, Inácio Mandomando, Azucena Bardají e Quique Bassat.
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