O projeto GenMoz, financiado pela BMGF, estabelecerá um sistema de monitoramento molecular para gerar dados para orientar a tomada de decisões
O Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM), em colaboração com o Programa Nacional de Controlo da Malária, a Malaria Consortium, o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), a Universidade da Califórnia e o Institute for Disease Modeling, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates (BMGF), prevê implementar um projecto denominado GenMoz (Genomics in Mozambique). O projecto tem como objetivo geral, construir capacidades genómicas da malária em Moçambique, a fim de aumentar a inteligência acionável para a tomada de decisões programáticas sobre a combinação ideal de medidas de controle e eliminação em Moçambique.
Segundo Dr. Alfredo Mayor, coordenador do projecto e Investigador do ISGLOBAL & CISM, “a vigilância molecular do parasita da malária (P. falciparum) fornece informações valiosas que complementam as obtidas pelos métodos tradicionais de vigilância e podem ajudar a orientar intervenções eficazes. Por exemplo, pode nos dizer se há cepas circulantes capazes de escapar do diagnóstico ou resistir ao tratamento, como também, nos informar, se em áreas com transmissão muito baixa, os poucos casos que vemos são importados ou não”.
Para tal, nos próximos três anos, o projeto desenvolverá um sistema operacional de vigilância molecular que gerará dados genómicos confiáveis e reproduzíveis ao longo do tempo para orientar as decisões em três níveis: (1) escolha do diagnóstico e tratamento adequados por meio da detecção de marcadores moleculares de resistência a drogas, e deleções que podem afetar os testes de diagnóstico rápido, (2) caracterização das fontes de transmissão por meio da classificação genética dos casos (introduzidos ou indígenas) para orientar intervenções para a eliminação da malária em áreas com baixa transmissão, e (3) selecção da combinação ideal de intervenções para minimizar a carga da doença em áreas com transmissão alta ou moderada.
Este projeto, propõe uma abordagem participativa que envolve todos os actores do sistema nacional de saúde, para promover uma cultura de uso de dados genómicos e, assim, aumentar o impacto na saúde pública. Por isso, para o Dr. Francisco Saúte, Director Científico do CISM, “este investimento fortalecerá a capacidade do CISM de gerar informação genética e do Programa Nacional de Controlo da Malária para usar essa informação estrategicamente na tomada de decisões”.
Ainda de acordo com o Dr. Alfredo, “espera-se que o projeto ajude na eliminação da malária no sul do país, onde a transmissão é baixa, e reduza o ônus da doença no Norte, onde a transmissão é moderada a alta. Ao mostrar as vantagens e complementaridade desse tipo de vigilância, esperamos dar visibilidade ao potencial da ciência genómica em nortear acções de controle e eliminação da malária”.
Recordar que, Moçambique está entre os dez países com maior incidência de malária em todo o mundo, e ao mesmo tempo, o Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) busca acelerar a eliminação no Sul do país, onde a transmissão é mais baixa. Para tal, o PNCM está actualmente a trabalhar com parceiros para configurar um sistema de vigilância de alta resolução que pode conduzir a tomada de decisão em todos os estratos de transmissão por meio do fortalecimento da qualidade de dados de rotina, uso de dados e pacotes de dados para acção. No entanto, as decisões tornam-se mais complexas à medida que o controle revela heterogeneidade e ferramentas melhores são necessárias para um uso estratégico das informações para gerar impacto.
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