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Foto do escritorWanderleia Iris Noa

“HOJE SEI QUE PARA TER UM BEBÉ SAUDÁVEL EU TENHO QUE ESTAR SAUDÁVEL TAMBÉM”


Ana Tanque e seu filho

Ana Tanque, natural e residente no Distrito da Manhiça, tem realizado deslocações frequentes à África do Sul, onde seu esposo trabalha e reside. Na sua primeira gestação, em 2021, Ana iniciou seu acompanhamento pré-natal no quinto mês após retornar do país vizinho. Infelizmente, nesta gravidez, Ana enfrentou uma situação dolorosa. No dia 06 de Março de 2021, às 07h00, enquanto se preparava para dar à luz no Hospital Distrital da Manhiça (HDM), os médicos informaram à jovem de 21 anos que seu bebé já havia falecido antes da data prevista do parto.


 “Foi difícil saber que dei à luz um bebé já morto. Quando fui ao hospital no 04 de Março disseram-me para regressar para casa, mesmo eu tendo dito que estava com muitas dores. E no período da noite do dia 05 de Março, voltei novamente e deixaram-me ficar no hospital. Então, dei parto no dia seguinte (06) de manhã e o bebé nasceu sem vida. Após o acontecido, conheci a equipa do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), e eles falaram com o meu sogro porque eu não estava bem e disseram que iriam analisar o corpo do meu bebé já falecido e que fariam uma visita algum tempo depois para dar os resultados do motivo que levou o bebé à morte”.


Manuel Homo, sogro da Ana

Manuel Homo, Sogro da Ana, dá mais detalhes do dia ocorrido. “Quando soube que a minha nora estava grávida já tinha três meses, e foi abrir a ficha pré-natal dois meses após termos tomado conhecimento. Depois da ficha ela fazia todas as consultas de acompanhamento. Quando se aproximaram as datas previstas, ela começou a sentir dores.  Levamo-la ao hospital e voltamos com ela no mesmo dia, sentiu dores novamente e, na manhã seguinte, tivemos a notícia que a criança tinha perdido a vida. Foi então que conheci a Dona Eugênia Bilana (consentidora do CHAMPS) e a Dulce Mazive (Assistente de Ciências Sociais). Ela falou comigo porque a minha esposa estava com a Ana.  Portanto, fui solicitado para ir ao hospital no dia seguinte e a Dona Eugênia falou comigo sobre o programa de Vigilância em Saúde Infantil e Prevenção da Mortalidade (CHAMPS), no sentido de que era possível saber porque é que o meu neto faleceu. Tomamos conhecimento que teríamos um acompanhamento e tinham que levar aquele nado morto para fazer exames e ficar à espera dos resultados. Fomos então encorajados a aceitar e mais tarde assinei uns documentos do CISM. No dia 08 de Março voltamos para casa com alguns comprimidos para a Ana tomar durante algum tempo. De facto, passado um mês a equipa do CISM veio à nossa casa para fazer uma autópsia verbal e algum tempo depois entregaram os resultados da causa da morte”, disse Homo.


Com o consentimento da Ana e o seu sogro, o nado marto foi submetido a uma abordagem que consiste na coleta de amostras teciduais e não teciduais usando técnicas minimamente invasivas (MITS), onde constatou-se que a morte do bebé foi devido a Hipoxia intra-uterina. Em pouco menos de um ano, Maio de 2022, Ana e seus sogros receberam o resultado da causa de morte do seu bebé do sexo masculino que falecera a 06 de Março de 2021.


No momento da entrega de resultados, Ana já estava grávida pela segunda vez.  Mas devido a sua aparência de palidez e fadiga a equipa do CHAMPS aconselhou que se aproximasse ao hospital para exames gerais, onde foi diagnosticada com Anemia como relata o sogro, Manuel Homo. “Desde a primeira gravidez ela não se alimentava bem, come em poucas quantidades e poucas vezes ao dia. Eu e a minha esposa temos sempre que chamar atenção a ela para que se alimente, uma vez que o meu filho, o marido dela, não está aqui em casa, nós temos esse duplo papel”.


“Quando deram-me o resultado, eu já estava na segunda gravidez, já com seis meses e acabava de voltar da África do Sul. Depois de dizerem o que levou meu filho a falecer fiquei com medo. A equipa do CISM continuou a visitar-me para ver como estava. O acompanhamento foi bom pois eu ia a consulta duas vezes por mês, uma vez na maternidade, onde faziam ecografia para ver o meu estado de saúde e do bebé, enquanto que na primeira gravidez eu não fazia isso, foi bom e foi diferente”, conta Ana com um sorriso no rosto, acrescentado que “hoje sei que para ter um bebé saudável eu tenho que estar saudável primeiro”.


Nesta senda, a equipa do CHAMPS/CISM passou a efectuar visitas frequentes à casa da Ana, incentivando-a para abrir a ficha pré-natal e ensinando algumas receitas saudáveis e nutritivas para mulheres grávidas. E assim a jovem teve o acompanhamento necessário para que a sua segunda gravidez fosse saudável. “Eu só quero agradecer ao CISM pela paciência que tiveram comigo. Dou muita força para que eles continuem assim, não só comigo, mas com outras mulheres também”, exalta Ana Tanque.


Na noite dia 30 de Junho de 2022 nasce o pequeno Manuel, filho da Ana. O parto estava previsto para o dia 01 de Julho, mas Ana teve dores na noite anterior e o transporte da Acção Social chegou depois do bebé ter nascido. Assim, o bebé nasceu em casa, e logo depois foi evacuado para o hospital. Hoje, Ana acaricia o seu bebé que já tem 1 ano de idade enquanto relembra os detalhes do dia do seu nascimento. A família da Ana reconhece o papel do CISM na recuperação da jovem. “Não sei como agradecer ao CISM, por tudo que fez e tem feito por nós. É a primeira vez que vejo um acompanhamento desta dimensão. Não quero minimizar o bom atendimento dos hospitais, mas este é o melhor modelo de atendimento. Minha nora deu parto nas minhas mãos, foi tudo rápido, eu recebi a criança e, por isso, foi-lhe dado o meu nome.


Em Moçambique, o Centro de Investigação em Saúde da Manhiça conduz o estudo CHAMPS nos Distritos da Manhiça, localizados a 80 quilómetros ao norte da capital, Maputo, e em Quelimane, a capital da província da Zambézia, situada no centro do país. Esta iniciativa é realizada em parceria com o Instituto Nacional de Saúde (INS), Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), Direcção Provincial de Saúde (DPS) e Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social (SDMAS), além de outros colaboradores no âmbito local, provincial e nacional.


O programa CHAMPS fornece informações detalhadas sobre causas específicas de morte, permitindo o desenvolvimento de estratégias para reduzir a mortalidade infantil por causas preveníveis. Actualmente, este estudo está em andamento em nove países, incluindo África do Sul, Bangladesh, Etiópia, Mali, Moçambique, Nigéria, Paquistão, Quénia e Serra Leoa. Financiado pela Fundação Gates e coordenado pela Universidade de Emory, nos Estados Unidos, o CHAMPS desempenha um papel crucial na compreensão e abordagem das causas de mortalidade infantil em diversas regiões.




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