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Nercio Machele

“EVA DORA E NÉLIA MAZULA: DUAS HISTÓRIAS DE SUCESSO DE MULHERES NA CIÊNCIA”


Num Webinar organizado pelo Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) em colaboração com a Embaixada de Espanha em Moçambique e com a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), subordinado ao tema: Mulheres e Raparigas na Ciência: Desafios e Oportunidades, destacou-se a participação da Investigadora Assistente do CISM, Eva Dora João e da Gestora de Contas Globais da Siemens (EUA), Nélia Mazula, duas jovens que se destacaram em 2022 a nível nacional e internacional no âmbito da pesquisa biomédica e da engenharia e que como oradoras deram o seu testemunho, falando-nos sobre o seus percursos, desafios e oportunidades.


Licenciada em Medicina Veterinária pela Universidade Eduardo Mondlane, Eva Dora, é doutorada em Genética Humana e Doenças Infecciosas pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (UNL, Portugal). Durante o seu percurso, desenvolveu a sua investigação em doenças diarreicas com enfoque na epidemiologia molecular do rotavírus em crianças em Moçambique no CISM, no período entre 2012-2014 e no Instituto Nacional de Saúde (2015-2019).

Iniciou como muitos outros investigadores do CISM, aproveitando as oportunidades de estágio que lhes foram concedidas

Segundo a Investigadora Assistente do CISM, iniciou como muitos outros investigadores do CISM, aproveitando as oportunidades de estágio que lhes foram concedidas. Mas, segundo ela, a paixão, mentoria, indução, acompanhamento, bem como, a oportunidade de trabalhar numa instituição de pesquisa, foram cruciais para o seu crescimento. E graças a isso, “fui obtendo prémios que me motivam a continuar na ciência. Em 2020, recebi o prémio Professor Doutor Manuel Pinto, atribuído pelo departamento de microbiologia do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (Portugal). Em 2022, o prémio talento jovem cientista Alkebulan Award atribuído pela Associação de Cientistas Espanhóis em África e no mesmo ano, tive o financiamento para o início de carreira como investigadora principal do Programa da UNESCO para Mulheres na Ciência para o Desenvolvimento do Mundo” comentou a investigadora.

...o conhecimento produzido por ela, sobre o rotavírus serviu para a melhoria do programa das doenças diarreicas do Ministério da Saúde em Moçambique

Eva Dora, é responsável pela investigação de vírus entéricos na vigilância da diarreia em crianças no distrito de Manhiça, “e o conhecimento produzido por ela, sobre o rotavírus serviu para a melhoria do programa das doenças diarreicas do Ministério da Saúde em Moçambique” ressalva Leonardo Simão, presidente da Fundação Manhiça, um dos presentes no evento.

Durante o meu percurso, nem tudo foi bonito ou fácil, pois tive que enfrentar vários desafios, com destaque para a maternidade.

Ainda de acordo com Eva Dora, “estar na ciência criou-me várias oportunidades tais como, conhecer outros países e culturas, ampliar meu conhecimento científico através da participação em workshops e fazer novas parcerias. Mas, durante o meu percurso, nem tudo foi bonito ou fácil, pois tive que enfrentar vários desafios, com destaque para a maternidade. Durante o meu último ano de doutoramento, fiquei grávida e tive que repensar no doutoramento, e na capacidade de poder conseguir naquele estado. Apesar de ter sido um choque, tive que me readaptar ao novo contexto, e pude conciliar a investigação com a maternidade, graças entre outros ao apoio de vários colegas e amigos”, acrescentou a investigadora assistente.


Por outro lado, Nélia Mazula, licenciada em Engenharia Química e Mestrada em Administração de Negócios (MBA) Internacional pelo Instituto Europeu de Administração de Empresas, contou como uma moçambicana, tornou-se na actual gestora de Contas Globais da Siemens nos Estados Unidos da América, liderando uma equipa de desenvolvimento e execução de estratégias de transformação digital para empresas químicas, de petróleo e gás das 100 maiores empresas mundiais (Fortune 100).

...fui crescendo como a única negra ou como a única africana, e neste meio tive que encontrar e afirmar a minha voz como pessoa.

Nélia Mazula, nasceu em Moçambique, e devido a guerra, seus pais mudaram-se para os Estados Unidos, no estado de Arizona, sendo ela ainda bebé. “Em Arizona, um estado sem muita diversificação cultural, fui crescendo como a única negra ou como a única africana, e neste meio tive que encontrar e afirmar a minha voz como pessoa. Digo isso porque as vezes ficamos à procura de modelos “role models”, quando só precisamos buscar no nosso interior o que de melhor podemos oferecer ao mundo. Estando nos EUA, fui trilhando os meus caminhos, mas sempre a pensar em ajudar o meu país, e pensava que a melhor forma seria tornando-me advogada, mas era muito boa em matemática e tive várias bolsas de estudo por causa do meu desempenho. Foi aí que comecei a ser incentivada a seguir pela engenharia, e lembro que nem sabia na altura o que era ser engenheira”, comentou Nélia Mazula.

A Nélia, foi assim entrando para o ramo das tecnologias e foi aproveitando as oportunidades para melhor capacitar-se no ramo. Actualmente, possui inúmeros certificados profissionais, cinco (5) Patentes de Software e mais de vinte (20) artigos técnicos publicados sobre estratégias digitais. Foi premiada e reconhecida ao nível internacional como inovadora e o nome dela consta no Museu Nacional de Inventores nos E.U.A. (National Inventor's Museum) e foi recentemente homenageada pelo Houston Business Journal como mulher líder.

Foi premiada e reconhecida ao nível internacional como inovadora e o nome dela consta no Museu Nacional de Inventores nos E.U.A.

O Webinar contou com 2 sessões, a primeira Mulheres e Raparigas na Ciência Desafios e Oportunidade que contou com a participação destas duas jovens oradoras aqui apresentadas, e a segunda Oportunidades de Financiamento para mulheres na ciência, que contou com a intervenção da Directora Executiva do Fundo Nacional de Investigação (FNI), Embaixador da Espanha em Moçambique e uma Investigadora do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IRDC) em representação da Parceria Europa-Países em Desenvolvimento para a Realização de Ensaios Clínicos EDCTP, instituições que promovem a participação da mulher na ciência através de oportunidades essencialmente dirigidas para a formação e a pesquisa. As notas de boas vindas e introdutórias foram proferidas pelo Presidente da Fundação Manhiça, Dr. Leonardo Simão e pela Presidente da FDC, Dra. Graça Machel, respectivamente.


Acompanha a gravação do webinar abaixo:


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