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Nercio Machele

ESTUDO DEMOSTRA A EFECTIVIDADE DO TRATAMENTO PREVENTIVO DA MALÁRIA EM MULHERES GRÁVIDAS

Atualizado: 15 de nov. de 2023


A OMS recomenda que as mulheres grávidas recebam tratamento preventivo da malária (IPTp) em cada consulta pré-natal

Um estudo realizado em quatro países da África Subsariana incluindo Moçambique, confirma que a abordagem baseada na administração de tratamento preventivo contra a malária em mulheres grávidas (IPTp) através dos Agentes Polivalentes Elementares (C-IPTp), é uma estratégia valiosa para optimizar o controlo da doença na gravidez. O estudo implementado no âmbito do projecto TIPTOP, determinou que a estratégia comunitária, não aumenta a prevalência de parasitas resistentes aos medicamentos, pelo menos a curto prazo.


Os resultados do estudo publicados na revista The Lancet Global Health, reforçam o C-IPTp como uma estratégia valiosa para proteger a saúde das mulheres grávidas e dos seus bebés em regiões onde a malária é endémica, num contexto em que esta doença na gravidez é uma grande ameaça para a saúde da mãe e do bebé. Por esta razão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as mulheres grávidas recebam tratamento preventivo da malária (IPTp) com sulfadoxina-pirimetamina (SP) em cada consulta pré-natal, a partir do segundo trimestre de gestação, cientes de que a eficácia desta estratégia pode ser comprometida pelo desenvolvimento de resistência dos parasitas aos medicamentos.

Uma abordagem que revelou-se bem-sucedida

Há 6 anos que o projecto TIPTOP é implementado em Moçambique pelo Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) no âmbito de um consórcio co-liderado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e pela Jhpiego, sob o financiado pela Unitaid. O mesmo, foi lançado para testar uma nova abordagem baseada na comunidade para aumentar o acesso ao IPTp incluindo em outros 3 países subsarianos (República Democrática do Congo, Madagáscar e Nigéria). Uma abordagem que revelou-se bem-sucedida, pois, todos os distritos onde o C-IPTp foi implementado atingiram ou ultrapassaram o objectivo de pelo menos 50% das mulheres grávidas elegíveis a receberem o tratamento preventivo (contra menos de 25% antes da intervenção), sem reduzir a frequência dos cuidados pré-natais.


E de acordo com a investigadora da área de Saúde Materna, Sexual e Reprodutiva do CISM, investigadora principal do projecto e directora da Iniciativa de Saúde Materna, Infantil e Reprodutiva do ISGlobal, Clara Menéndez, "tendo em conta os potenciais benefícios do aumento da distribuição comunitária de IPTp, era importante avaliar se poderia levar a um aumento da resistência dos parasitas à SP. Para o efeito, a equipa do estudo avaliou a prevalência de marcadores moleculares de resistência à SP antes e depois da implementação do C-IPTp, recolhendo manchas de sangue seco de mais de 2.000 crianças com menos de cinco anos de idade com malária clínica antes (em 2018) e depois de três anos (em 2021) da implementação do C-IPTp em duas áreas vizinhas por país (no caso de Moçambique, nos distritos de Nhamatanda e Dondo, em Sofala), uma onde a intervenção do C-IPTp teve lugar e outra onde o IPTp foi apenas fornecido nas unidades de sanitárias. De seguida, utilizaram estas amostras para analisar a presença de mutações genéticas específicas associadas à resistência à SP no parasita P. falciparum.

As taxas elevadas de resistência não prejudicam necessariamente a eficácia da quimioprevenção.

De acordo com a primeira autora do artigo, Antía Figueroa-Romero, “de um modo geral, os resultados mostram que não se registaram alterações significativas na prevalência de marcadores moleculares associados à resistência à SP ao longo do tempo. Confirmam também que as intervenções de quimioprevenção da malária não conduzem inevitavelmente a um aumento da resistência e que mesmo as taxas elevadas de resistência não prejudicam necessariamente a eficácia da quimioprevenção.” Antía, acrescenta que "o aumento da prevalência de mutações não conduz necessariamente a um aumento significativo da resistência aos medicamentos. Podem entrar em jogo outros factores importantes, como a imunidade individual à malária, o metabolismo dos medicamentos ou o estado nutricional".


Raquel González, investigadora do ISGlobal & CISM conclui que “os resultados deste estudo, dão garantias aos decisores políticos de que o C-IPTp aumenta a adesão ao IPTp sem comprometer a sua eficácia e que é uma estratégia valiosa para otimizar o controlo da malária durante a gravidez.”


Referência

Dosoo, D. K., Bailey, J. A., Asante, K. P., Oppong, F. B., Niaré, K., Opoku-Mensah, J., Owusu-Agyei, S., Greenwood, B., & Chandramohan, D. (2022). The prevalence of molecular markers of resistance to sulfadoxine-pyrimethamine among pregnant women at first antenatal clinic attendance and delivery in the forest-savannah area of Ghana. PloS one, 17(8), e0271489. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0271489

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