O Investigador Principal do programa CHAMPS em Moçambique, Inácio Mandomando, participou numa conferência de imprensa que teve lugar em Seattle, nos Estados Unidos da América, no dia 21 do corrente mês. A mesma, decorreu no âmbito da Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2023), que para além do Investigador do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), participaram investigadores, representando outros países e/ou centros que actuam na área. Ao todo, a conferência contou com 3.500 participantes, sendo 3.000 de forma presencial, dos quais 40% provenientes de fora dos Estados Unidos da América.
...102 mortes das 108, estavam associadas ao HIV e poderiam ter sido evitadas
Na ocasião, Mandomando, apresentou dados do CHAMPS, cujo objectivo principal é estudar as principais causas de morte em crianças menores de 5 anos, com enfoque as mortes associadas ao HIV. Segundo o investigador, de 2017 a 2021, o CHAMPS estudou as causas de 108 das 2.100 mortes pediátricas registadas em quatro países africanos com alta prevalência de HIV (Quénia, Moçambique, Serra Leoa e África do Sul). No estudo, o painel de especialistas do programa, identificou que cerca de 5% estavam associadas ao HIV, Quénia com 34, Moçambique 33, Africa do Sul 28, e Serra Leoa 13 mortes, respectivamente. “Ora, o painel conclui que 102 das 108 mortes associadas ao HIV poderiam ter sido evitadas” comentou o investigador que é igualmente, responsável pela Área de pesquisa em Doenças Bacterianas, Virais E Outras Tropicais Negligenciadas no CISM.
Quando foi avaliada a proporção de serviços de prevenção e tratamento do HIV antes da morte, notou-se que de forma global a nível da rede CHAMPS, um pouco mais da metade (51%) das mortes associadas ao HIV, ocorreu em crianças que na altura da morte não tinham sido diagnosticadas ou não conheciam o seu estado em relação ao HIV, sendo que foram detectadas graças a sua participação no CHAMPS. “Em termos de cobertura, descobrimos que dois terços das mortes associadas ao HIV na África do Sul apenas metade delas estava em terapia antirretroviral, por outro lado, Quénia cobria apenas um terço dos diagnosticados, enquanto, Moçambique teve a maior taxa de cobertura de tratamento com cerca de 60% das mortes e a menor taxa de foi verificada na Serra (9%)" comentou.
“Quando analisamos a proporção de mortes por grupos de idades, notamos que a proporção de mortes atribuídas ao HIV em Moçambique foi de 15% em menores de um ano, mas esse número aumentou para 18,7% das mortes na faixa etária de 1 a 4 anos. Na África do Sul, as mortes em menores de 1 ano atribuíveis ao HIV foram de 12,4%, caindo para 7,6% no grupo de crianças de 1 a 4 anos. Por outro lado, Quénia e Moçambique têm o maior peso de mortes relacionadas ao HIV em crianças de 1 a 4 anos, o que nos permitiu concluir que em cada cinco mortes de crianças, uma está associada ao HIV”, concluiu.
De acordo com Mandomando, os dados apresentados nessa conferência mostram que 97% das mortes infantis associadas ao HIV tinham outros processos infecciosos na cadeia causal, onde as infecções respiratórias inferiores, sepse e malária são as patologias mais comuns e os patógenos mais observados com essas infecções foram Citomegalovírus (CMV) e Klebsiella.
O HIV continua a ser uma das principais causas de morte infantil em alguns países africanos com alta carga, e quase todas as mortes poderiam ter sido evitadas.
Os dados, ainda segundo o investigador, demostraram que o HIV continua a ser uma das principais causas de morte infantil em alguns países africanos com alta carga, e quase todas as mortes poderiam ter sido evitadas. Porém, as mortes relacionadas ao HIV em crianças, são provavelmente subnotificadas devido à prática de registar uma única causa de morte. Mas, “quase todas as crianças que morrem com HIV têm várias condições que contribuem para a morte. Conhecer essas condições pode nos fornecer informações sobre como contribuir na redução da mortalidade infantil associada ao HIV”, comentou.
CHAMPS, é um programa multicêntrico coordenado pela Universidade de Emory sob financiamento da Gates Foundation e que está a ser implementado em Moçambique (distritos de Manhiça e de Quelimane) e em outros países da África Subsaariana e do Sul da Ásia como Mali, Serra Leoa, Quénia, África do Sul, Etiópia, Banglades e Índia, com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates.
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