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Nercio Machele

CISM REALIZA UM ESTUDO SOBRE ORFANDADE NA MANHIÇA


Um estudo realizado pela equipa de Demografia do CISM, sob coordenação de Ariel Nhacolo, intitulado, “orfandade nas áreas rurais do sul de Moçambique: uma análise das causas, prevalência, incidência e impacto na migração e living arrangements (referindo-se ao tamanho do agregado familiar, ou seja, número de pessoas que vivem juntos de crianças no distrito de Manhiça (1998-2019)”, concluiu que, há mais órfãos que perderam os seus pais do que aqueles que perderam as suas mães. Esta é uma conclusão consistente com a alta mortalidade em homens adultos quando comparada com a mortalidade em mulheres adultas.


Ariel Nhacolo, Demógrafo

Para os autores, o estudo apresenta informação, que embora básica, é crucial para os decisores na concepção de intervenções e políticas para reduzir a magnitude dos problemas relacionados com crianças órfãs em Moçambique, particularmente a nível distrital, onde os dados são muito escassos. Segundo Nhacolo, “de Janeiro de 1998 a Dezembro de 2019 o Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde (HDSS) do CISM seguiu 335 789 pessoas, das quais, 62% (208 203) eram crianças <18 anos a data do primeiro registo no HDSS, tendo ficado com 173 549 crianças para as análises depois de excluir aquelas cujos Números de Identificação (ID's) de ambos pais eram inválidos".


Este estudo constatou que 8.1% (14 032) das crianças seguidas que tinham ficado órfãs, 4.1% (7 091) eram órfãs de pai, 3.4% (5 849) órfãos de mãe e 0.5% (915) de ambos. Ainda no estudo, foi constatado que, as principais causas de orfandade materna na Manhiça são o HIV/SIDA (30,4%), as neoplasias digestivas (8,78%) e a tuberculose pulmonar (5,9%). Por outro lado, constataram também que a orfandade paterna, está relacionada por sua vez com o HIV/SIDA (18,1%), a tuberculose pulmonar (10,8%), e os AVCs (8,1%). Para além destas causas, a pneumonia, os acidentes de viação e a malária contribuem significativamente para a orfandade.


Ainda de acordo com Nhacolo, “os dados mostram que a prevalência de órfãos aumentou no distrito da Manhiça ao longo das duas décadas, mas a incidência diminuiu, o que pode estar relacionado com os esforços realizados para melhorar os serviços de saúde em Moçambique, particularmente os destinados a combater o HIV/SIDA e a tuberculose – que são as principais causas de morte em adultos no distrito. Os resultados mostram também que a orfandade aumenta com a idade das crianças, de tal forma que 72.0% (3,802) dos órfãos na Manhiça têm entre 10-17 anos de idade. Por Posto Administrativo, a prevalência é mais alta nos postos de Manhiça-Sede (6.6%) e de 3 de Fevereiro (6.5%) e mínima no posto de Xinavane (2.6%)”.

De acordo com a análise das consequências da orfandade, avaliada no estudo, os resultados mostram que mais órfãos tendem a viver em agregados familiares chefiados por mulheres (67,4%) comparado com os não órfãos (19,7%). Numa maior percentagem, os órfãos tendem a viver em agregados familiares chefiados por crianças menores de 18 anos (7,8%) respeito aos não órfãos (4,2%) e por idosos (13,4%) e (6,3%) respectivamente. Estas diferenças aumentam para os órfãos maternos e duplos, entre os quais 13,3% e 16,1% vivem em agregados familiares chefiados por crianças e 17,6% e 25,6% vivem em agregados familiares chefiados por idosos. Como consequência, verificou-se que 32,6% de órfãos vivem com os seus avós ou tios, reduzindo-se a 14,3% quando se trata de não órfãos.


Por último destacar que, os órfãos tendem a migrar mais do que os não órfãos (taxa de migração interna de 108,5/1000 anos-pessoa em órfãos vs. 76,0 em não órfãos) e, a perca da mãe aumenta mais o risco de migração se comparado a perda do pai, particularmente em crianças pequenas. Por idade, os órfãos continuam com maior risco de migração mesmo na faixa etária entre os 6-10 anos de idade (onde em geral a migração é baixa), em comparação com os não órfãos.

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