Durante as reuniões de sensibilização e mobilização comunitária no âmbito do projecto CHAMPS, um estudo que visa determinar as causas de morte em crianças menores de 5 anos de idade usando técnicas minimamente invasivas (MITS), a comunidade reclamava a falta de transporte para levar doentes graves ao hospital, foi neste contexto que surgiu o Programa de Ambulâncias Comunitárias (PAC), com o propósito de responder ao desafio de transporte de crianças e/ou adultos com doenças graves e mulheres grávidas, da comunidade para as Unidades Sanitárias e vice-versa, esperando vir a contribuir para a redução de óbitos no distrito. Este programa inspira-se nas actividades do estudo CLIP (Community Level Intervention for Pre-eclampsia), no qual, apenas mulheres grávidas beneficiavam de um programa de transporte.
O PAC, desde o seu início (Junho de 2018) conta com o subsídio financeiro do CISM, porém, para que o programa seja autossustentável, o PAC conta com um forte envolvimento e comparticipação financeira da comunidade na qual é implementado. O programa é implementado por bairro, e cada bairro tem uma comissão eleita, da qual fazem parte estruturas locais e indivíduos identificados pela própria comunidade, e pontos focais de cada quarteirão, responsáveis pela gestão do funcionamento do programa assim como dos fundos. Os pontos focais de cada quarteirão são os que reportam os casos registrados à comissão, que por sua vez avalia a gravidade do caso e verifica a necessidade ou não da solicitação do transporte.
Com pouco mais de dois anos desde o seu início, o PAC é implementado em 6 bairros pertencentes ao posto administrativo de Xinavane, no distrito da Manhiça (província de Maputo), e pouco mais de 120 agregados familiares já beneficiaram da ajuda resultante da sua afiliação a este programa.
O programa foi apresentado em 36 bairros pertencentes ao distrito de Manhiça onde são implementadas actividades do projecto CHAMPS, e segundo explica-nos Saquina Cossa, Oficial de Ligação com a Comunidade (OLC) da Unidade de Pesquisa Social do CISM, durante as sessões de apresentação, “explica-se o funcionamento do programa, e caso concordem com a sua implementação, estabelecem-se as contribuições mensais (determinadas pelas comunidades e que variam de 20 a 50 meticais), cria-se a comissão e posteriormente com o apoio do CISM é criada uma conta bancária para a canalização das contribuições provenientes da comunidade e do Centro”. Apesar de enfatizar-se que o valor canalizado servirá de ajuda às famílias em caso de urgência médica ou de óbitos, a OLC, confessou que “não foi fácil implementar este programa devido a desconfiança das pessoas, sendo por vezes ameaçados por supostamente querermos roubar o dinheiro das pessoas, pelo que, foi crucial o envolvimento dos líderes comunitários“.
O Bairro de Xitlavane, é um dos bairros benificiários e modelo de sucesso do PAC. Segundo explicou o secretário do Bairro e membro da comissão o senhor Luis Carlos Saia, “apesar da inicial desconfiança respeito a possíveis desvios das contribuições, as adesões ao programa foram aumentando a medida que o tempo passava e testemunhavam-se o auxílio dos filiados ao programa em situação de aflição, evitando situações piores ou mesmo a morte”. Ainda segundo ele, “hoje, 13 dos 15 quarteirões do bairro já aderiram ao programa e, durante o período de vigência deste, mais de 30 famílias dos 3000 agregados do bairro, já beneficiaram de apoio”.
“Os primeiros a contribuir somos nós” revelou o chefe de Quarteirão 15 do mesmo Bairro, Daniel Niquiciane Ngove que confirma que o projecto é indispensável, pois ajuda a própria comunidade em situações adversas que normalmente, ser-lhes ia difícil responder. E segundo ele, os cerca de 395 agregados familiares do seu bairro já aderiram a estratégia e grande parte, “opta por contribuições anuais no valor de 240 meticais”, isto porque, “foram vendo que afinal os que fazem parte deste programa, em caso de doença ou morte são socorridos” e “as pessoas foram vendo como um mecanismo de segurança para eventos vitais fora do seu controlo”. O senhor Ngove acrescentou que dado ao sucesso do programa, eles têm recebido pedidos de pessoas de outros quarteirões e bairros que pretendem inscrever-se.
Foi no mesmo bairro que conhecemos a senhora Maida e o senhor Chissano que beneficiaram do PAC. Pai e chefe de um agregado familiar composto por 6 membros, o senhor Manuel Rafael Chissano ainda que não estivesse inscrito na comissão quando perdeu o seu filho mais novo, a princípios do ano em curso, beneficiou do programa através para o transporte do corpo sem vida do seu filho da sua residência para a unidade sanitária e vice-versa. Este confessou estar satisfeito com esta iniciativa que os tem vindo a ajudar bastante, porém, apesar das dificuldades que têm enfrentado para garantir contribuir, diz agora, esforçar-se bastante para fazê-lo, pois, viu realmente a sua importância”.
Por sua vez, a senhora Maida Henriques Mambane que recebeu a ajuda deste programa por duas vezes, primeiro quando o esposo esteve doente, através deste programa, foi possível que a família pudesse receber o transporte dele a partir do Hospital Provincial de Maputo até a sua residência. Segundo, quando a sua sogra perdeu a vida também foi-lhe disponibilizado o transporte do corpo do Centro de Saúde de Xinavane até a sua residência.
Este programa, também contribui para o sustento familiar dos motoristas e proprietários das viaturas que fazem parte da mesma comunidade e inscritos no programa. A título de exemplo, o senhor Manuel Francisco Hobswana pai e chefe de um agregado familiar composto por 9 filhos e duas esposas, conta que, sente-se orgulhoso em poder ajudar as pessoas da sua comunidade, mas também, sente-se ainda feliz porque o subsídio que tem recebido no acto de transporte dos casos, “dá para fazer alguma coisa”. Segundo ele, seria interessante que outras pessoas que possuem viaturas na comunidade, tivessem esta iniciativa de ajudar aos outros.
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