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Nercio Machele

AINDA HÁ DESAFIOS PARA O CONTROLO DA RAIVA EM MOÇAMBIQUE


Foto: cucavetclinicaveterinaria

A Raiva, uma doença infecciosa grave causada pelo vírus do género Lyssavirus, da família Rhabdoviridae, tem sido responsável pela morte de 55 000 pessoas por ano em todo o mundo, com destaque para os continentes africano e asiático. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, anualmente cerca de 15 milhões de pessoas recebem profilaxia pós exposição, e mesmo assim alguns desses casos terminam em morte, tornando a Raiva uma das principais Doenças Zoonóticas Prioritárias.


De acordo com Francisco Guilengue, do Departamento de Prevenção e Controlo de Doenças na Direção Nacional de Saúde Pública do Ministério da Saúde (MISAU), “esta doença, afecta maioritariamente crianças menores de 15 anos. Só em 2021, foram registados em Moçambique, cerca de 23.870 casos de mordedura por animais, destes, 23 resultaram em morte pela raiva. Este número de casos, pode ser explicado pelo aumento da densidade populacional e da população canina dentro das cidades em particular”.


A Raiva é uma doença letal, cujos sintomas podem ser a angústia, febre, cefaleias, dor no local da mordedura, formigueiro, prurido e contrariamente ao que muitos pensam, “para além dos cães, a doença pode ser também transmitida, por outros animais domésticos (gatos, vacas e cavalos) e selvagens (macacos, morcegos, raposas e coiotes). O que torna necessário um alerta às populações, visto que esta doença não tem cura e a prevenção é a única forma segura para a eliminação da doença” defende Francisco Guilengue.


Ainda de acordo com Guilengue, a prevenção, é ainda um desafio no país, pois “é preciso massificar as campanhas de sensibilização comunitária a postura em relação ao porte de animais, a divulgação da informação sobre as medidas de prevenção, as campanhas de vacinação animal (principalmente cães e gatos) e a profilaxia pré e pós exposição”.


Na luta contra a Raiva, “pesquisas específicas sobre este problema de saúde pública, são cruciais, e o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), tem realizado em colaboração com a Faculdade de Veterinária da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), estudos para a caracterização molecular de isolados de Salmonella em aves e diagnóstico e caracterização molecular de protozoários intestinais em bovinos e cães, cujo objectivo final é identificar doenças zoonóticas de maior preocupação em Moçambique, usando contribuições iguais de representantes da saúde humana, saúde veterinária, ambiente, pesquisa, parceiros de desenvolvimento e sectores de ensino superior” comenta Inácio Mandomando, Investigador e Coordenador da Área de Doenças Bacterianas, Virais e Outras Tropicais Negligenciadas do CISM.


“Estas pesquisas na sua maioria implementadas no distrito de Manhiça, que somente no primeiro semestre de 2022 registaram cerca de 118 casos de mordedura de animais, baseiam-se numa abordagem, internacionalmente conhecida como One health, que pressupõe que a saúde humana e a saúde animal são interdependentes e ligadas aos ecossistemas em que coexistem” acrescentou o Investigador do CISM.


Guilengue e Mandomando, falavam no âmbito de um webinar promovido pelo CISM, a 28 de Setembro do corrente ano, em coordenação com a Ordem dos Médicos Veterinários de Moçambique e a Associação de Veterinários de Moçambique, em celebração do Dia Mundial Contra a Raiva, celebrado anualmente a 28 de Setembro.



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