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Nercio Machele

90% DOS RESIDENTES DA MANHIÇA JÁ ESTIVERAM EXPOSTOS AO SARS-CoV-2


Uma análise sobre a presença de anticorpos no sangue de pessoas do Distrito da Manhiça, revelou que o número de pessoas expostas ao coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2 do inglês xSevere and Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), aumentou em cada onda registada no país. Ou seja, em cada onda, mais pessoas estiveram infectadas por SARS-CoV-2, ou pelo menos, estiveram expostas ao coronavírus. Esta é uma das conclusões do projecto MOZCOVID, implementado desde Dezembro de 2020, com o objectivo de compreender a curva epidémica e a história natural do SARS-CoV-2 no distrito de Manhiça, uma área rural no sul de Moçambique, através de uma série de indicadores epidemiológicos, obtidos ao nível das unidades sanitária e da comunidade, de modo a fornecer recomendações baseadas em evidências para o gerenciamento e mitigação da epidemia da COVID-19.


O projecto financiado pela EDCTP (European & Developing Countries Clinical Trials Partnership), analisou dados de prevalência da COVID-19 aguda no Hospital Distrital da Manhiça - HDM (a vigilância hospitalar, consistiu na testagem passiva de pacientes que se dirigiam ao HDM com sintomatologia sugestiva de COVID-19 usando testes de PCR de zaragatoas nasofaríngea e seguimento de casos positivos), e analisou também dados de seroprevalência recolhidos na comunidade da Manhiça.


Auria de Jesus, médica

De acordo com Áuria de Jesus, médica envolvida no MOZCOVID, uma das constatações feitas no âmbito deste projecto é que existem alguns grupos etários que mesmo sem terem sido vacinado já possuem anticorpos contra o SARS-CoV-2. “Por isso, temos que avaliar junto com o Ministério da Saúde, se há realmente necessidade de se vacinar certos grupos etários, pois num dos nossos estudos (Cross), verificamos de uma forma geral que nos três estudos de seroprevalência na comunidade, a seroprevalência evoluiu de um total de 27,6%, no primeiro estudo de corte transversal realizado após a segunda onda de COVID-19 em Moçambique), para 63.6% no segundo, realizado após a terceira onda e para 91.2% no terceiro, realizado no final da quarta onda”, comentou a médica.


“Esses dados colhidos na comunidade, permitem concluir que mais de 90% das pessoas do distrito já foram infectadas por SARS-CoV-2 ou pelo menos estiveram expostas ao vírus, e consequentemente desenvolveram anticorpos contra SARS-CoV-2, porém, não sabemos ainda se estes anticorpos serão capazes de proteger as pessoas contra novas infecções. Portanto, estudos e análises mais aprofundadas estão a ser feitas para esclarecer estas questões”, adicionou a médica.


Por outro lado, segundo Inácio Mandomando, Investigador Principal do MOZCOVID, “a tendência de aumento da seroprevalência também foi observada quando se analisou o local de residência (posto administrativo) dos participantes de um estudo transversal para o seguinte. E, estes dados podem ter implicações importantes e apoiar decisões de estratégia de vacinação, particularmente em indivíduos dos 15 aos 18 anos em Moçambique. Para além disso, estes resultados têm o potencial de produzir um impacto imediato à saúde pública, ao nível nacional, regional e global, melhorando o maneio, a prevenção e o controlo da epidemia da COVID-19 em Moçambique e em outros países da África Subsaariana, fornecendo recomendações baseadas em evidências que podem ser traduzidas em políticas de saúde“, concluiu o Investigador

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